sexta-feira, outubro 15, 2004

CAB no XPD - Diário de bordo (3ª etapa)

O amanhecer no Guadiana
3ª Etapa - Diário de Bordo por António Neves
Com uma noite tranquila no corpo, decidimos “lavar a honra do convento”: «a 3ª etapa é nossa nem que seja preciso “trincar a carótida” !».
Já tínhamos sido informados que a secção inicial de Canoagem da 3ª etapa tinha sido cancelada, mas para surpresa nossa, na manhã de Sábado soubemos que a secção seguinte de BTT também seria anulada e as equipas iniciariam a 3ª etapa no Pulo do Lobo com a secção pedestre e transposição de obstáculos às 16:30.
“F... isto já sabe mais a férias do que a raid” - afortunadamente para as 3 equipas que puderam concluir a secção de canoagem da 2ª etapa na manhã de Sábado, e sem cut-off...
Preguiçosamente “lá vai Moura, lá vai Serpa, as Pias ficam no meio...” chegámos ao Pulo do Lobo, que com o caudal resultante de Alqueva se apresentava majestoso.
Tínhamos decidido não fazer os obstáculos (seríamos a 9ª equipa a partir) nem os 2 CP’s da margem do canyon, para não perder tempo, aviar as duas pedestres e a de patins e estar no Pomarão prontos para partir para a canoagem à abertura desta secção (inicialmente prevista para as 7 da manhã de Domingo), desta vez iríamos casar a estratégia com a dureza !
Informações contraditórias, ora tínhamos de controlar o início da etapa lá em baixo ora já se podia controlar cá em cima, fizeram-nos “vestir”, “despir” e voltar a “vestir” o arnês. Após a ‘passerelle’ e 30 minutos depois, decidimos fazer os obstáculos.
O que se seguiu atingiu-me profundamente:
- A equipa que desceu imediatamente antes de nós foi a equipa #1 “A’ventura Raid Team” que integrava a minha filha.
No preciso momento em que recebemos autorização para descer (uns 15 minutos depois da equipa #1) ouço o Luís dizer “é pá caiu”. Por alguns momentos aquilo pareceu-se uma brincadeira de mau gosto... Só quem tem filhos pode perceber o meu sobressalto. Galguei a ribanceira e, ao cruzar-me com o Rui Marques, percebi que a Joana estava bem.
Não vou descrever mais pormenores deste acidente neste diário de bordo, porque é a organização que tem a obrigação de esclarecer rigorosamente o acontecimento, independentemente da gravidade das lesões que vitimaram o Peter Nejsig do Team Fusion.dk.
Após este infeliz acidente a organização decidiu suspender a prova.
Convocados os chefes das equipas, reuniram com a organização em Corte de Sines tendo decidido continuar e dar início à etapa patins/trikke pelas 11:30.
A equipa do CAB prosseguiu a sua determinação em concluir o raid e colocou dois elementos de patins e dois de trikke (havia obrigatoriedade em colocar pelos menos duas trikkes). Imprimimos um ritmo forte, apesar da “avaria” na trikke do Luís, rolando velozmente pela noite alentejana, agora calma e sem vento.
Mas com as rodas a travar permanentemente, nem o sistema de reboque patins/trikke evitou a ultrapassagem pela equipa finlandesa, com o elemento feminino de patins e utilizando bastões como no ski.
Duas voltas ao guiador explicou a avaria que, depois de resolvida, ainda nos permitiu encontrar a equipa Gatorade Finland na transição para a pedestre.
O percurso pedestre que se seguiu levou-nos ao Pomarão, através da antiga linha ferroviária do minério, perfurando os montes. À saída de um dos muitos túneis ainda fomos ultrapassados pela equipa inglesa eVENT ENDURE que seguia silenciosa em bom ritmo.
No Pomarão equipámos os dois K2 e zarpámos no encalço das equipas estrangeiras, pelas 3 horas da madrugada de Domingo.
O rio fez-me lembrar uma descida nocturna em Junho de 1995 precisamente do Pomarão até Alcoutim: o mesmo ar, a mesma calmaria, até o estranho cantar dos pássaros na margem estava presente na minha memória.
Em Alcoutim ainda nos cruzámos com as duas equipas à saída do braço de rio que nos levava ao CP. Nesse ponto decidimos comer e envolver as pernas com manta térmica porque o frio já nos gelara os joelhos. Quando saímos do “buraco” ainda nos cruzámos com a equipa Megamedia.
A partir de Alcoutim navegamos sempre solitários até à Foz de Odeleite; recitámos integralmente o livro de culinária da Maria de Lurdes Modesto. Aí partilhamos um pequeno almoço de romãs com o Inácio Serralheiro.
Daí até Castro Marim foi uma questão de teimosia, inspirados pela Ilha do Rato e inebriados pelo “Ratax Azul” chegámos à meta às 13:27, três horas depois dos finlandeses e uma hora depois dos ingleses (estes com menos dois CP’s).
Três horas depois de nós chegou a equipa vencedora do raid a EcoAtitude e, que nos conste, mais nenhuma equipa completou os 48 Km Pomarão/Castro Marim, ficando as restantes equipas em Foz de Odeleite.
À noite fomos presenteados por excelente repasto e uma bonita cerimónia de encerramento no castelo.
Até à próxima. Parabéns à equipa vencedora e a todas as resistentes.

P.S. As referências às equipas neste diário apenas dizem respeito a equipas mistas na prova principal XPD Race. Os relatos baseiam-se em informações/impressões recolhidas durante a prova ou à data da publicação deste Post.

1 comentário:

Zen disse...

"com o elemento feminino de patins e utilizando bastões como no ski."
Cabecinha pensadooora!

Epá vocês estão todos de parabéns! Apesar das muitas aventuras que já viveram ( e contabilizadas sei que são bastantes e em lugares diversos) , acredito por aquilo que aqui li que esta deve ter sido das experiências mais fantásticas e intensas das vossas vidas. Venham mais!